sexta-feira, maio 02, 2003

E já que eu retornei, meio a contragosto, ao asunto "TOMBOS", vou contar a história do meu primeiro tombo que foi grande e grave... Desses tombos que você sempre pensa: isso só acontece comigo!

Lá pelos idos de 1984, eu estava na primeira série do primeiro grau. Nessa época, meu melhor amigo era o Rodrigo Ferreira*. Nós passávamos muito tempo juntos desde a alfabetização e eu gostava bastante dele porque ele era divertido e traquinas (como dizia minha vó)! Nós aprontávamos muito, mas nossa amizade não se restringia à escola. Por ser muito, mas muuuuuuuuuuuuito travesso (desses que colocam fogo em lixeiras, que quebram vidraças, que fazem da vida dos pais um inferno), Rodrigo vivia de castigo. Então, era eu quem freqüentava a casa dele. Aliás, ele foi muito poucas vezes em minha casa.

Os pais de Rodrigo tinham um restaurante especializado em massas, a "Tratoria Oggi" (que infelizmente já não existe mais), e a casa deles era nos fundos do restaurante. O terreno do restaurante/casa era tão grande pegava as duas ruas paralelas do quarteirão. Ir na casa do Rodrigo era ótimo porque ele tinha váááários brinquedos, um quintal enorme nos fundos da casa e, no quintal da frente da Tratoria havia um parquinho, desses com escorregadores, balanços, gangorras...

Então, num fim de semana qualquer, eu havia ido passar o dia na casa do Rodrigo. Depois de aprontarmos muito dentro de casa, o severíssimo pai do Rodrigo nos botou pra correr. Fomos brincar no parquinho da Tratoria. Nós brincávamos muito de AVENTURA (que explicarei o que era numa outra ocasião - um mico absurdo e generalizado) por lá. Numa dessas, a gente começou a disputar quem usava o escorregador da maneira mais criativa. Escorregávamos de lado, de cabeça pra baixo, de barriga, de costas, parando. Até que eu tive a brilhante idéia de escorregar em pé...

Subi as escadas do escorregador com aquela confiança que os audazes atletas dos esportes radicais exibem em seus sorrisos meio amarelos pelo medo amenizado pela excitação. Eu era um deus dourado da audácia! Até o Rodrigo, o maior peralta da minha infância, me olhava com um misto de admiração e frustração pro não ser ele o autor e executor de tal idéia.

E fiquei em pé em cima do escorregador. E respirei profundamente. E escorreguei. Nos breves segundos que se seguiram pude apenas sentir meus pés deslizando sobre o escorregador, uma brisa na minha cara, a sensação de liberdade e o chão cheios de britas...

Sim, senhoras e senhores, quase no fim do percurso do topo ao fundo do escorregador eu CAÍ, de frente para um chão cheio de britas. Pra melhorar, caí em cima do meu braço direito e quebrei o pulso. A dor era alucinante, eu chorava muito. Para os pais do Rodrigo não ficarem sabendo e não colocá-lo de castigo ad infinitum, fomos ambos correndo pra casa da minha tia Nete**, que morava perto da Tratoria e ela tratou de nos levar para o hospital.

Foi a primeira vez (de uma série) que eu tive que engessar o braço.

Fiquei 3 semanas engessado, indo pra escola com o braço quebrado e sem poder escrever... só valeu a pena porque:

(») fiquei 3 semanas sem fazer educação física;

(Þ) fiquei sendo o centro das atenções por uma semana (é, a fama dura menos que a desgraça).

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* Detalhe: quando você é criança e estuda com vários crianças com nomes semelhantes, todas são chamadas por NOME E SOBRENOME. Como havia mais de um Rodrigo, ele era Rodrigo Ferreira. O outro era Rodrigo Amorim. Havia duas Déboras (a Cabral e a Simas), três Julianas (a Carvalho, a Lopes e a Messina). E, apesar de ter três Andrés (além de mim tinha o Luiz e o Martins) na minha turma, eu era o único que não era chamado por nome e sobrenome: era só André...

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** Minha tia Nete foi um anjo nas nossas vidas, mesmo no fim da sua própria, quando sofreu um pesado martírio. Era sempre pra casa dela que eu corria quando algo de muito errado acontecia. Foi pra lá que eu corri com meu irmão quando ele se machucou, foi pra lá que eu corri as várias vezes que eu me machuquei (inclusive me machuquei saindo de lá), foi pra lá que eu corri quando precisei me sentir muito amado depois de ter discutido com os pais do meu pai... Nesse dia do tombo, ela me fez muito carinho, fez compressas no meu braço e ME PREGOU UM PEDAÇO ENORME DE EMPLASTRO SABIÁ COM VIC VAPORUB no braço, pra dar firmeza e aliviar a dor. Ligou pra minha mãe e me levou pro hospital. Sempre com seu carinho intrínseco e característico. Onde quer que ela esteja, sei que estará sempre comigo, pois muito do que eu sou, devo a ela...

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