segunda-feira, março 09, 2009

AREIA NOS DENTES





Há pouco mais de um ano, eu dei vazão a uma necessidade que me acompanha desde o início da adolescência: comecei a usar aparelho ortodôntico. Isso me poupou muitos anos de terapia, pois não passei a adolescência sendo chamado de boca de latão, mas também não eram muito agradáveis minhas dores de cabeça ocasionadas pela má-oclusão.

Daí que usar aparelho, para alguns, é uma tortura medieval. Mas pra mim, é tão-somente uma fonte de vexames. Logo que comecei a usar o aparelho, não senti dores nem tive aftas, mas eu tinha virado uma fonte ambulante. Por sorte, consegui controlar a salivação durante a fala com o aparelho na boca.

Mas o pior é a quantidade de comida que fica presa nessa grade de ferro! Tem horas em que me sinto a própria árvore de natal: cheio de penduricalhos!

O mais chato é quando alguém resolve tirar com a minha cara. Dia desses, estávamos almoçando e, após o almoço, fiz um discretíssimo bochecho com minha coca-cola, pra remover alguns pedacinhos de comida presos no dente e poder caminhar com o sorriso impune do restaurante até o prédio do meu trabalho, onde eu andaria alguns metros por entre pessoas conhecidas até alcançar o banheiro e minha redenção através da escova de dentes, da escova interdental e do fio dental.

Como eu havia comido muitas saladas, na saída do restaurante, perguntei ao Velhinho se havia alguma coisa verde nos meus dentes e ele foi categórico no 'não' que me respondeu. E lá fui eu, andando pelas ruas de Botafogo, falando com todos os conhecidos que encontrei no caminho: a menina da aula de dança, o porteiro do meu ex-prédio, o irmão de um amigo, a moça que fazia faxina na casa da minha vizinha, a tia do segurança do banco do meu trabalho... sempre esbanjando simpatia e... sorrisos!

Cheguei no trabalho, encontrei um monte de conhecidos, bati papo, contei piadas no elevador, ri alto. Entrei na minha sala, falei com todo mundo, zoei a cara de um dos meninos, arreganhei os dentes às gargalhadas, peguei meu arsenal de escovação e parti pro banheiro, ainda ofegante, de tanto rir.

Parei em frente ao espelho, ajeitei uma mecha de cabelo, coloquei pasta na escova e quando abri meu sorriso de escova em punho, HAVIA UM PEDAÇO GIGANTE DE CENOURA ATRAVESSADO NO APARELHO! Isso só acontece comigo!

Saí do banheiro branco e tenso, e fui dar esporro no Velhinho, que simplesmente me respondeu: "Ué, você perguntou se tinha alguma coisa VERDE no seu dente, e eu disse que não tinha. Se tivesse perguntado de algo LARANJA, eu teria dito que tinha, oras"! Eu mereço?

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