quinta-feira, março 06, 2003

Aproveitando o clima de (fim de) Carnaval, lembrei de uma história deprimente que aconteceu comigo no Carnaval de 1999.

Eu estava em Cabo Frio, na casa dos meus avós. Aliás, a casa estava superpopulada, pois além dos meus avós, estávamos lá eu, meus irmãos, minha mãe, três amigas minhas (Cândida, Piggy e Graziella) e a afilhada da minha avó. Era segunda-feira de carnaval e íamos sair no dia seguinte num dos blocos mais famosos de Cabo Frio: o Bloco da Rama.

O Bloco da Rama reúne foliões os mais diversos, com a peculiaridade de boa parte dos homens curtirem a "evolução" do bloco vestidos de mulher. É uma tradição quase inquebrável! E é muito engraçado ver um montão (não são todos, é lógico) de homens vestidos com saias rodadas, blusas de mangas bufantes, saias indianas, enrolados em cangas ou de biquinis horrorosos, com maquiagens muito berrantes e mal-feitas, usando peruquinhas mais velhas que o próprio conceito de tempo. E como a gente nem sempre pode fugir das tradições, eu ia me vestir de mulher, embalado pela experiência positiva de ter me fantasiado de mulher no carnaval anterior (eu havia usado trajes dos anos 60 - um luxo, eu tava com uma peruca loira e fiquei parecendo a mãe da minha irmã) .

Havíamos combinado de sair todos (eu e meus irmãos) vestidos de mulher e as meninas (junto com a minha "prima" Viviane) iriam sair vestidas de homem (mas a Piggy e o meu irmão Felippe ficaram doentes e não puderam ir ao Bloco da Rama). Só que eu não queria sair como uma mulher qualquer... Eu, como de costume, queria chamar a atenção, primar pela criatividade e resolvi que minha fantasia de piranha ia ser temática. Decidi que eu iria me fantasiar de Sandrinha, personagem da Adriana Esteves na novela "Torre de Babel". Como na época eu estava usando o cabelo comprido (sim, eu tive cabelo comprido, até os ombros), ia ficar fácil de compor o visual da personagem.

E chegou a fatídica terça-feira de carnaval. Nos arrumamos para a grande empreitada travesti do Bloco da Rama. A minha preparação foi a mais demorada, porque demorou um século para a minha adoentada amiga Piggy fazer os cachinhos no meu cabelo... Mas, depois de tudo pronto, fomos pra rua.

Era uma bagunça só. No caminho para chegarmos à concentração do bloco, minhas amigas (travestidas de amigos) iam mexendo com os outros na rua, meu irmão havia virado um cruzamento de piranha com cantora do Fat Family. E eu ainda estava vestindo a personagem. Somente aqueles que são atores compreendem o quanto pode ser difícil incorporar uma personagem, ainda mais uma personagem que já foi interpretada por alguém.

Quando finalmente deixei aflorar a Sandrinha mais cachorra que eu poderia fazer/interpretar naquele carnaval, resolvi entrar na brincadeira e mexer com as pessoas na rua. Encontrei um grupo de rapazes que conversava animadamente e pensei: "vou lá mexer com eles". Ah, se arrependimento matasse...

Cheguei perto deles, falei meia dúzia de barbaridades, falei que eu era gostosa e que eu tava fácil, fácil. Eles riram e começaram a mexer comigo também... O problema foi que um deles realmente abusou e até hoje eu não sei se ele estava realmente brincando ou se a coisa foi séria. O cara começou a se esfregar em mim, dizendo que queria me provar, saber se eu era gostosa mesmo, que ia me pegar de jeito, que eu era uma piranha cheirosa e mais uma série de absurdos. Ele estava descontrolado, passava a mão freneticamente em mim e eu, mesmo achando estranho, levei na brincadeira... até que ele apertou a minha bunda com força. E a minha bunda é sagrada!

Fui saindo do grupo de mansinho, com um sorriso meio amarelo. Minhas amigas travestidas de amigos estavam achando engraçado aquele meu "freak show" com os caras... elas não conseguiam entender porque eu estava fugindo deles. O cara simplesmente gamou em mim. Encontramos com o grupo de amigos de novo e o cara queria me dar o telefone dele de qualquer jeito! Fiquei pasmo! Fugi deles desesperadamente durante o "passeio" do Bloco da Rama pela cidade.

Obviamente, todos encararam a minha história como um exagero... mas é porque nenhuma daquelas pessoas passaram por essa situação pois, francamente, isso só acontece comigo!

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