terça-feira, junho 24, 2003

Fernanda Rena fez sucesso ao postar em seu blog a transcrição em português do diálogo entre Neo e o Arquiteto em Matrix Reloaded... Invejoso como só eu, resolvi seguir os passos dessa estrela bloguística e coloco aqui uma transcrição com uma brilhante análise do discurso. É impressionante o subtexto, exposto de maneira clara, o que facilita a compreensão de tal diálogo:

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DIÁLOGO ENTRE NEO E O ARQUITETO
O que eles realmente queriam dizer

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NEO: Quem é você?
(¦)Tradução: Quem é você?

ARQUITETO: Eu sou o Arquiteto. Eu criei o Matrix. Tenho lhe esperado. Você tem muitas perguntas, e embora o processo tenha alterado seu consenso, você permanece irrevogavelmente humano. Assim sendo, algumas de minhas respostas você compreenderá, e algumas delas não. Concordantemente, enquanto sua primeira pergunta pode ser a mais pertinente, você pode ou não compreender que é também a mais irrelevante.
(»)Tradução: Sou o criador do Matrix. Você tem muitas perguntas, mas como você é humano, não irá entender todas as minhas respostas. Você acha que sua primeira pergunta é a mais importante, mas na verdade é a mais idiota.

NEO: Por que estou aqui?
(¦)Tradução: Por que estou aqui?

ARQUITETO: Sua vida é a soma do restante de uma equação desequilibrada inerente à programação do Matrix. Você é a eventualidade de uma anomalia, que, apesar de meus esforços mais sinceros, sou incapaz de eliminar do que é de outra maneira uma harmonia da precisão matemática. Enquanto isso, remanesce um fardo assiduamente evitado, não é inesperado, e assim não é nada mais que uma medida do controle. A qual lhe conduziu, inexoravelmente... aqui.
(»)Tradução: Você não passa de um PAU já previsto no projeto do Matrix. Um BUG que não consigo matar, e que volta e meia aparece para me encher o saco e quebrar a perfeição do Matrix. Enquanto não acho a solução definitiva para esse PAU, uso um Ctrl+Alt+Del bala que corrige a base de tempos em tempos. Por isso você está aqui.

NEO: Você não respondeu minha pergunta.
(¦)Tradução: Não entendi nada.

ARQUITETO: Completamente correto. Interessante. Isso foi mais rápido que os outros.
(»)Tradução: Legal. De todos você foi o que reconheceu sua burrice mais rápido.

TVs NEOs: Outros? Quantos outros? Que outros? Responda minha pergunta!
(¦)Tradução: Que outros???

ARQUITETO: O Matrix é mais velho do que você sabe. Eu prefiro contar do nascimento de uma anomalia integral ao nascimento da anomalia seguinte, que no caso desta é a sexta versão.
(»)Tradução: Com você, 6.

TVs NEOs: 5 antes de mim? 4?!? 3?!? Do que você está falando?
(¦)Tradução: Quê???

NEO: Há somente duas explicações possíveis: ou ninguém me disse ou ninguém sabe.
(¦)Tradução: Tô que nem pai de veado, sempre o último a saber...

ARQUITETO: Precisamente. Como você está indubitavelmente compreendendo, a anomalia é sistêmica - criando flutuações uniformes até mesmo nas mais simples equações.
(»)Tradução: Isso aí. Como você está captando, você é um PAU, e não podemos prever os estragos que irá causar...

TVs NEOs: Você não pode controlar-me! Eu vou reduzi-lo em pedaços! Vou te matar!
(¦)Tradução: Foda-se! PAU é a puta que te pariu!

NEO: Escolha. O problema é escolha.
(¦)Tradução: Tudo não passa de um "IF" errado...

ARQUITETO: O primeiro Matrix que projetei era completa e naturalmente perfeito, ele era uma obra de arte - idílico, sublime. Um triunfo igualado somente por sua falha monumental. A inevitabilidade de sua ruína é agora para mim claramente a conseqüência da imperfeição inerente a cada ser humano. Assim sendo, eu o redesenhei (n.t.: o Matrix) baseado em sua história (n.t.: dos Humanos) para refletir mais exatamente as grotescas variações de sua natureza. Entretanto, fui novamente frustrado pela falha. Desde então tenho vindo a compreender que a resposta me iludiu porque requeria menos inteligência, ou talvez uma mente menos limitada pelos parâmetros da perfeição. Então a resposta foi descoberta por outro - um programa intuitivo, criado inicialmente para investigar determinados aspectos da psiquê humana. Se eu sou o pai do Matrix, ela seria indubitavelmente sua mãe.
(»)Tradução: A primeira versão do Matrix era perfeita demais, não "colou" nada porque humano é burro e gosta mesmo é de sofrer. Então fiz uma versão meia-boca total. Mas ainda era boa demais pra vocês. Depois, vi que eu é que tenho padrões muito altos, sou "foda pra mais de metro", então passei a bola para uma subordinada - sabonetei todo o trabalho duro...

NEO: O Oráculo.
(¦)Tradução: Ah... aquela gordinha que aparece no banco da praça...

ARQUITETO: Por favor. Como eu estava dizendo, ela descobriu uma solução em que aproximadamente 99% de todos submetidos aos testes aceitavam o programa, desde que lhes fossem dadas opções de escolha, mesmo que subconscientemente já estivessem cientes de quais escolhas fariam. Se por um lado esta resposta funcionou, era obviamente e fundamentalmente falha, criando assim a contraditória anomalia sistêmica, que se ignorada poderia tornar-se uma ameaça ao próprio sistema. Desse modo, aqueles que recusassem o programa, enquanto minoria, se ignorada, constituiriam em uma probabilidade escalar para o desastre.
(»)Tradução: Cala a boca, seu burro! Deixa eu continuar: ela elaborou um anteprojeto onde até 99% dos humanos gostavam do Matrix, mas só quando tinham opções de escolha - mesmo que no fundo já soubessem o que iam escolher. Como estávamos estourados, "mandamos ver" nesse anteprojeto mesmo. O único problema dele também prevíamos que 1% estaria sempre assombrando a consistência do programa, e se fosse ignorado iria ferrando a base aos poucos, podendo causar um ERROR.LOG que abortasse o programa.

NEO: Isto é sobre Zion.
(¦)Tradução: Esse 1% está em Zion, né?!?

ARQUITETO: Você está aqui porque Zion está a ponto de ser destruído - cada habitante vivo seu exterminado, sua existência inteira erradicada.
(»)Tradução: É isso aí - vamos detonar com Zion!!!

NEO: Besteira!
(¦)Tradução: Besteira!

TVs NEOs: Besteira!
(¦)Tradução: Besteira!

ARQUITETO: A negação é a mais predicativa de todas as respostas humanas, mas fique tranqüilo, esta será a sexta vez que nós a destruimos, e nos tornamos altamente eficientes nisso.
(»)Tradução: Já tô de saco cheio de ouvir isso, mas fica a pampa e relaxa, é a sexta vez que detonamos com Zion...

ARQUITETO: A função do Escolhido é agora retornar à fonte, permitindo uma disseminação temporária do código que você carrega, re-inserindo o programa original. Depois disso, você será convocado a selecionar 23 individuos de Matrix - 16 fêmeas, 7 machos - para reconstruir Zion. Falhar em cumprir com este processo resultará em uma cataclísmica quebra do sistema, matando todos conectados ao Matrix, que, combinada com a exterminação de Zion, resultará finalmente na extinção de toda a raça humana.
(»)Tradução: Resumindo, o negócio é o seguinte: volte a Zion e selecione 16 minas e 7 manos para repovoar (uia!) Zion depois da treta. Se você não fizer isso não vai sobrar 1 humano pra contar a história.

NEO: Você não deixara isso acontecer. Você não pode. Você necessita de seres humanos para sobreviver.
(¦)Tradução: Mas você não vai deixar todo mundo morrer - aí, quem vai fazer o papel de "duracell" pra vocês?

ARQUITETO: Há níveis de sobrevivência que estamos preparados para aceitar. Entretanto, o assunto relevante é se você está ou não pronto para aceitar a responsabilidade da morte de cada ser humano neste planeta... interessante, lendo suas reações. Seus 5 predecessores eram, pelo projeto, baseados em uma pré-concepção similar - uma afirmação contingente que deveria criar uma forte ligação com os demais de sua espécie, facilitando a função do Escolhido. Enquanto os outros experimentaram isto de uma maneira muito genérica, sua experiência é muito mais específica - um amor.
(»)Tradução: Nós podemos funcionar em modo "stand-by", mas você vai dormir com um fardo desses? Mas já me liguei que você não está nem aí para a humanidade - você quer saber é de dar um picote na gostosa...

NEO: Trinity.
(¦)Tradução: Trinity.

ARQUITETO: Que, a propósito, entrou em Matrix para salvar sua vida, ao custo de sua própria.
(»)Tradução: Ela mesmo. Só pra você saber: ela entrou no Matrix e vai morrer por sua causa.

NEO: Não.
(¦)Tradução: Sério?!?

ARQUITETO: A qual nos traz ao último momento da verdade, onde a falha fundamental é finalmente expressada, e a anomalia é revelada como início e fim. Há duas portas. A porta a sua direita conduz à fonte, e à salvação de Zion. A porta a sua esquerda conduz para Matrix, a ela (n.t.: a Trinity) e ao fim de sua espécie. Como você adequadamente expôs, o problema é escolha. Mas nós já sabemos o que você vai fazer, não? Já posso ver a reação em cadeia - os precursores químicos que sinalizam o início de uma emoção, projetados especificamente para oprimir a lógica e a razão - uma emoção que já o está cegando da verdade simples e óbvia. Ela vai morrer, e não há nada que você possa fazer para impedir.
(»)Tradução: Agora é com você: ou salva a humanidade ou salva Trinity. Como você está pensando com a cabeça de baixo - por que provavelmente ela dá uma pimbada nervosa, até já sei o que você vai fazer: que se foda a humanidade, né? Mas pensa bem: a Trinity já era - e ainda por cima você pode escolher a dedo as outras 16...

(Neo se dirige à porta da esquerda)

ARQUITETO: Esperança. É a quintessência da ilusão humana, simultaneamente a fonte de sua força maior e sua maior fraqueza.
(»)Tradução: Ó... tu vai fazer merda...

NEO: Se eu fosse você, torceria para que não nos encontrássemos outra vez.
(¦)Tradução: Se te ver de novo o treiszoitão vai cantar!

ARQUITETO: Nós não vamos.
(»)Tradução: Falou fio, vai sonhando...

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Este texto também pode ser encontrado no Quadrado Imperfeito.

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