sexta-feira, junho 27, 2003

Gustavo Dumas é um ótimo rapaz (mas que de "bom moço" não tem nada)... Um escritor de primeira, edita o BalbuCios e tem sofrido com as constantes tráficos de poesia do escroque Zeh Gustavo... Mas não é desse sofrimento que Gustavo nos fala hoje...

CHAVES FORA
Gustavo Dumas


Se nosso webmaster André é rei em derrapagens, tombos e quedas, a figurinha aqui adora esquecer chaves.
O interessante nessa história é que, durante o bom tempo de sete meses em que eu morava perto do trabalho, só esqueci uma vez as chaves na empresa. Como sou uma pessoa de muita mas muitíssima sorte mesmo, minha companheira de lar (mamãe!) não se encontrava em casa quando voltei de uma aula. Isso eram dez e tanto da noite. Tive de vir até a empresa, onde cheguei às 23h e saí às 23h04min. Tal fato até hoje me vale gracejos de meus coleguinhas, que acham que eu voltei por um desses motivos, digamos carnais. E me atribuem a consumação de uma noite de amor de quatro minutos com a dona mais funesta de nossa repartição! Ninguém merece. Só eu, por esquecer a chave... Mas foi só essa vez (eu juro, hi hi hi!), enquanto eu morava perto.

Me mudei há três meses. Moro agora em Niterói, solitariamente só. E distante mais de uma hora do meu trabalho. Nesse meio tempo, já esqueci as chaves um sem-número de vezes. A sorte é que minha mãe tem uma cópia, e às vezes me socorre. Tais esquecimentos são pontuados de pequenas estorietas que, não terei modéstia em assumir minha primazia, me deixam à vontade para dizer: Isso Só Acontece Comigo!

Registro: só noto que estou sem as respectivas quando chego à porta de minha vila. Nem reviro mais meus bolsos. Quando levo as mãos ao bolso que costuma guardá-las e verifico seu vazio, já sei que me fudi de verde-amarelo-azul-e-branco. Mas teve um dia que foi de tricolor. Explico: na semifinal do último estadual, o Fluminense enfrentou o Flamengo, num sábado à tarde. Eu tinha que ir, porque sabia que o resultado dependia obviamente da minha presença na torcida tricolor. Pois que durmo de sexta para sábado na casa de minha namorada, também em Niterói. De manhã, combinamos de passar lá em casa para eu tomar banho, trocar de roupa, a gente almoçar e depois eu desová-la em algum ônibus 49 e ir cumprir com minha missão clubística. Quando chegamos junto ao portão verde... Esqueci as chaves! Desta vez, não no trabalho, mas na casa dela. Não daria tempo de ir até lá e depois ir ao jogo. Que que eu fiz? Fui pro jogo, de pasta no braço, roupa de trabalho, cueca suja. Deu certo: Fluminense 4 a 0!!!

Meu último feito foi na terça que passou. Cheguei em casa e: Nada de chave! Desta vez não podia dormir fora, porque de manhã ia receber a visita do SuperGetúlio, um amigo que conserta a minha casa quando as coisas nela começam a desabar (será que Isso Só Acontece Comigo também?!). Apelei então para a minha Supermamãe Tabajara, que se despencou, com febre, de Copacabana para ir lá abrigar seu filhote desligadão. Acabei me dando bem, dessa vez. Quando comecei a fazer hora para esperar minha mãe, notei que do início da rua - onde ficam o Plaza Shopping e o belíssimo Teatro Municipal de Niterói - vinha um som familiar. Caminhei e, quando cheguei à fonte do som, meu descontentamento com mais um molho de chaves esquecido no trabalho dissipou-se, em lugar da felicidade de ver-ouvir, num telão, quase todo o show da Beth Carvalho e do Época de Ouro (infelizes aqueles que nunca ouviram o ?poca!), homenageando Nelson Cavaquinho (ah, mais infelizes os que não conhecem pelo menos meia d?zia das muitas canções deste fantástico Nelson!). Quando o show acabou, não esperei nem mais quinze minutos, e minha mãezinha chegou.
Provado: vale a pena ser um pouquinho desligado e ficar ao acaso da vida, esperando algo acontecer. Tem mais, definitivamente: esquecer a chave, ficar sem eira nem beira, cansado, no meio da rua, esperando a mãe para entrar na própria casa de solteiro e, do nada, ouvir a vozinha da Beth cantando Nelson, acompanhada do Época de Ouro - Isso Só Acontece Comigo!!!


E se você quer contar o seu desastre particular, seu mico básico, basta escrever para isacblog@yahoo.com.br, ok?

Um pequeno post-scriptum: Não sei se o Gustavo lembra mas, no dia seguinte à noite em que ele passou 4 minutos na empresa, a figura funesta (conhecida por Madame L.) estava toda sorrisos... por isso a acusação de intercurso sexual...

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