sexta-feira, julho 07, 2006

ALMA





Pra acabar de vez com esse assunto, vai a terceira e última história que me chamou a atenção no fim de semana.

Em meados dos anos 1970, Cabo Frio era lugar muito mais tranqüilo, bucólico, menos povoado... e, como toda cidade do interior, as pessoas tinham muitas superstições, medos bobos etc.

Dona Landa, tia de uma das amigas de minha prima, sempre foi uma pessoa muito devotada à família e religiosa. Várias vezes na semana, ela costumava ir ao cemitério rezar pelos seus entes queridos, fossem da família ou não. Numa dessas visitas ao cemitério, dona Landa acabou perdendo a noção de tempo e o zelador do lugar fechou os portões, sem nem se dar conta de que dona Landa ainda se encontrava lá dentro.

Quando dona Landa resolveu sair do cemitério, VIU QUE ESTAVA TRANCADA LÁ DENTRO! Não achou o zelador (que já tinha fechado tudo e ido embora) e não via jeito de sair. Com certeza, ela pessou: "isso só acontece comigo". E eu acho difícil mesmo que aconteça com outra pessoa!

Dona Landa se encaminhou para o portão de entrada e, sempre que alguém passava, ela estendia as mãos e bradava: "meu filho, me ajuda, por favor"... E AS PESSOAS CORRIAM APAVORADAS! Algo meio lógico e evidente, né: quem, nos anos 70, numa cidadezinha do interior, não correria se, ao pôr-do-sol, estivesse passando pelo cemitério e visse uma senhora de mãos estendidas pedindo ajuda?

Depois de algumas tentativas frustradas de clamar por socorro, dona Landa comeou a percorrer o cemitério em busca de uma saída. Eis que ela encontra, ao lado de um jazigo, uma escada. Vislumbrando sua saída, ela carregou a escada até o portão e posicionou-a ao lado deste, subindo no muro. Sentadinha lá em cima, ela tentava puxar a escada de volta, mas não tinha forças para tanto. E continuou, de cima do muro, com sua cantilena: "minha filha, me ajuda, por favor"... E AS PESSOAS CONTINUAVAM A FUGIR APAVORADAS! Afinal quem, nos anos 70, numa cidadezinha do interior, não correria se, ao pôr-do-sol, visse uma senhora sentada no muro do cemitério, de mãos estendidas, pedindo ajuda?

Após vários momentos de desespero, a ajuda de dona Landa estava a caminho. A missa no convento tinha chegado ao final e uma senhora- cujo nome não me recordo agora - voltava com seu filho - um cara muito muito muito gordo, apelidado de ÍNDIO, por sua pele morena e olhos puxados - e, de longe, avistou alguém sentada no muro do cemitério. Até comentou com o filho: "veja só, esse povo da favela anda cada vez mais abusado... nem respeitam mais os mortos... tem alguém sentado no muro do cemitério fumando maconha"...

Até que, ao se aproximar mais, ela reconheceu dona Landa e, junto com o filho, tratou de ajudar a pobre a descer do muro. Na verdade, ela se encostou no muro e ajudou o filho imenso de gordo a subir por ele. O filho puxou a escada do lado de dentro e pôs para o lado de fora. Assim, ele e dona Landa puderam descer do muro...

... e assim foi criada mais uma lenda urbana em Cabo Frio: a da alma penada de uma velha senhora que pedia ajuda aos passantes no cemitério!

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